Ela desatinou, desatou nós: os lugares que se cruzam na trajetória das docentes no enino superior privado
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Data
2020-08-13
Autores
Orientador
Paula, Ricardo Pires de
Coorientador
Pós-graduação
Geografia - FCT
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Dissertação de mestrado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
Esta pesquisa objetiva contribuir na compreensão do lugar que as mulheres ocupam e tencionam no ensino superior brasileiro, especialmente, no setor privado da educação que tem crescido desde o final da década de 1990. Atualmente, elas são maioria das estudantes nas Instituições de Ensino Superior (IES) (pública e privada), mas será que isso sempre foi assim? Ou significa que as desigualdades de gênero foram superadas? Da outra parte, quando observamos o corpo docente das IES, verificamos que os homens predominam. Quando consideramos o sistema educacional brasileiro, percebemos que as mulheres ocupam majoritariamente à docência nas etapas de ensino que se associam aos valores “maternais”, enquanto sua presença diminui exatamente na etapa em que o ensino ganha status de “ciência” – justamente onde estão os cargos de maior prestígio e os salários mais altos. No ensino superior, elas estão em determinadas áreas do conhecimento que se associam aos estereótipos machistas sobre o gênero feminino. Partimos então do método marxista de análise da realidade para interpretar o que está por detrás deste arranjo, já que nos interessa ir as raízes e encontrar os “nós” que atam e desatam a vida das mulheres. A partir do acúmulo da Geografia Crítica e Feminista, acreditamos que as dimensões histórica e espacial contribuam para desvendarmos as origens da exploração-dominação de gênero. Nesta direção, o desenvolvimento do capitalismo se entrelaça com as estruturas patriarcais e racistas que operam de forma articulada, feito nó – como Heleith Saffioti (1987;2013) interpreta – na formação socioespacial brasileira. Com isso, nosso intuito é investigar como a divisão sexual do trabalho opera desde as relações de trabalho das docentes nas IES, até a responsabilidade que recai sobre elas quando o assunto é o trabalho doméstico de cuidados e isso interfere diretamente na organização política delas. Para tanto, a metodologia empregada nesta pesquisa combinou, numa perspectiva de limite e complementariedade, os dados quantitativos e a produção da informação qualitativa. Além da consulta aos principais banco de dados estatísticas sobre a Educação Superior, realizamos oito entrevistas, sendo que 5 foram com mulheres que lecionaram nas IES localizadas no município de Presidente Prudente/SP e as demais com sindicalistas que representam a categoria docente na região. Os resultados encontrados revelam como a divisão sexual do trabalho interfere diretamente nas relações de gênero produzidas dentro e fora dos espaços acadêmicos. Se o espaço produtivo (universidade) e o reprodutivo (casa) aparecem como lugares fragmentados no arranjo espacial, na prática estes lugares estão profundamente interligados pelo capitalismo-patriarcal-racista que produz e é produto de relações cotidianas no trabalho das docentes. Entre o lar, a luta e a labuta, o fato é que o acúmulo da dupla jornada de trabalho prejudica a disponibilidade de tempo e energia das mulheres na participação de espaços políticos. Neste emaranhado, verificamos que o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Presidente Prudente (SINTEE-PP) acaba por reproduzir a lógica patriarcal na divisão do trabalho no interior da entidade, mas também na atuação política que não procura superar as contradições que permeiam a exploração-dominação do trabalho feminino. Assim, acreditamos que ainda é um desafio para o movimento sindical incorporar a estratégia feminista na luta por melhores condições de trabalho no ensino superior privado.
Resumo (inglês)
This research aims to contribute to the understanding of the place that is occupied by women and intend in Brazilian higher education, specially in education private sector that has grown since the end of the 1990s. Currently, they are most of the students in Higher Education Institutions (HEI) (public and private), but does it always been like this? Or does it mean that gender inequalities were overcome? On another hand, when we observe the teaching staff of the HEI, we find men’s predominance. When we consider the Brazilian educational system, we realize that women mainly occupy teaching in the educational stages that are associated with “maternal” values, while their presence decreases exactly in step when teaching gains science status - precisely where the most prestigious jobs and higher wages are. In higher education, they are in certain areas of knowledge that are associated with sexist stereotypes about the female gender. Then, we started with the Marxist reality analysis method to interpret what is behind this arrangement, since we are interested in going to the roots and finding the “knots” that tie and untie the women’s lives. Based on the theoretical accumulation of Critical and Feminist Geography, we believe that historical and spatial dimensions contribute to unveiling the origins of gender-exploitation-domination. In this direction, the development of capitalism is intertwined with the patriarchal and racist structures that operate in an articulated way, the same as a knot as Heleith Saffioti (1987;2013) interprets in Brazilian socio-spatial formation. Thus, our aim is to investigate how the sexual division of labor operates from the teachers' labor relations in the HEI, to the responsibility that falls on them when the subject is domestic care work and this directly interferes in their political organization. Therefore, the methodology used in this research combined, in a perspective of limit and complementarity, quantitative data and the production of qualitative information. In addition to consulting the main statistical databases on Higher Education, we conducted eight interviews, five of which were with women who taught at HEI located in the city of Presidente Prudente/SP and the others with union members who represent the teaching category in the region. The results found reveal how the sexual division of labor directly interferes in the gender relations produced inside and outside of academic spaces. If the productive space (university) and the reproductive space (home) appear as fragmented places in the spatial arrangement, in practice these places are deeply interconnected by the patriarchal-racist capitalism that produces and is the product of everyday relationships in the work of women teachers. Between the home, the struggle and the toil, the fact is that the accumulation of the double workday affects the availability of time and energy of women in the participation of political spaces. In this tangle, we find that the Union of Workers in Educational Institutions of Presidente Prudente (SINTEE-PP) ends up reproducing the patriarchal logic in the division of labor within the entity, but also in the political performance that does not seek to overcome the contradictions that permeate the exploitation-domination of female labor. Thus, we believe that still a challenge for the union movement to incorporate the feminist strategy in the struggle for better working conditions in private higher education.
Descrição
Idioma
Português