Sensibilidades do flagelo: estudos fabulatórios da performatividade e da teatralidade medieval

Abstract

Com esta dissertação propõe-se uma aproximação sensível com a teatralidade e a performatividade da violência na Baixa Idade Média Ocidental por meio da realização de dois estudos de caso. Compreendendo que o passado não existe como uma categoria autônoma, mas sua existência se estabelece sempre em relação com o olhar do presente, utiliza-se como chave de leitura os conceitos de genealogia e fabulação na realização desse deslocamento histórico. Em vez de se preocupar com a veracidade que envolve as cenas históricas elencadas, busca-se, a partir delas, realizar um exercício de imaginação como forma de trazer uma outra luz para a produção poética contemporânea. A pesquisa se dedica a discorrer sobre a sensação de dor que é gerada por um ato de violência em dois casos diferentes. Em um primeiro momento, no estudo das cenas de tortura real dos mistérios da paixão medieval, é exposto um caso de uma ficção em que a fabulação escapa ao enquadramento e vai em direção ao real como meio de produzir uma relação imediata com a sensação de dor. E, em um segundo momento, no estudo da epidemia da dança, é apresentada uma situação da realidade que necessita de um enquadramento de teatralidade para aliviar a dor e dar contorno à violência por meio da fabulação.

This dissertation proposes a sensitive approach to the theatricality and performativity of violence in the Late Middle Ages in Western Europe through two case studies. Understanding that the past does not exist as an autonomous category, but that its existence is always established in relation to the present perspective, the concepts of genealogy and fabulation are employed as interpretative tools for this historical shift. Rather than focusing on the accuracy of the selected historical scenes, the work seeks to use them as a basis for an imaginative exercise, aiming to shed new light on contemporary poetic production. The research is dedicated to discussing the sensation of pain generated by acts of violence in two different cases. First, the study of real torture scenes in medieval Passion plays, a case of fiction is presented in which fabulation escapes its framing and moves towards the real, producing an immediate relationship with the sensation of pain. Second, the study of the dancing plague, a real situation is presented that requires a theatrical framing to relieve pain and give shape to violence through fabulation.