Inovações em produtos e processos de negócios na agricultura familiar: estudo comparativo entre casos do Rio Grande do Sul e São Paulo em Short Food Supply Chains (SFSC)

Abstract

Há o crescimento de interesse de instituições públicas, cidadãos e agricultores por Short Food Supply Chains (SFSC), por serem consideradas cadeias sustentáveis e para o atendimento de mudanças comportamentais dos consumidores, em relação aos hábitos alimentares, na busca por alimentos mais saudáveis e de qualidades diferenciadas e interesse dos agricultores ao adicionarem valor aos seus produtos. Entretanto, para que agricultores familiares se insiram ou permaneçam nessas cadeias, muitas vezes, as inovações em produtos e processos de negócios são requeridas em suas propriedades rurais. Nesse contexto, no Rio Grande do Sul, as SFSC evoluíram, com a inclusão e valorização da agricultura familiar, ao aproximar esses agricultores dos consumidores, demandando inovações para que permaneçam atuando nessas cadeias. Por outro lado, no estado de São Paulo, as ações relacionadas às SFSC ainda são incipientes. Esses agricultores familiares paulistas também buscam inovações para a inserção ou permanência em SFSC. Portanto, este trabalho objetivou compreender, de forma comparativa, como as inovações de produtos e processos de negócios foram implementadas pelos agricultores familiares que atuam no âmbito de SFSC, entre os localizados no Rio Grande do Sul (RS) e São Paulo (SP). Para essa pesquisa, utilizou-se de abordagem qualitativa, com o objetivo descritivo e uso da técnica comparativa, entre as regiões de estudo. Como procedimento, seguiu-se o estudo de casos múltiplos, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas com agricultores familiares, observações diretas e documentações. Como análise de dados, utilizou-se de análise de conteúdo e estatística descritiva. Os principais resultados indicaram que todos os pesquisados inovaram ao se inserirem e/ou permanecerem em SFSC, porém, houve um maior destaque para os localizados no Rio Grande do Sul quanto à introdução de produtos, melhorias produtivas, adoção de novos equipamentos, novas embalagens, formas diferenciadas de exposição de produtos, introdução de dispositivos eletrônicos, uso de plataformas on-line, incluindo o gerenciamento de pós-vendas e as parcerias com organizações. Em São Paulo, as principais inovações realizadas pelos pesquisados foram as parcerias publicitárias, criação de novos conteúdos durante a abordagem de vendas, com ênfase na tradição e resgate cultural, decisões no âmbito social e terceirizações. Dentre as principais motivações para a inovação, os pesquisados de ambas as regiões buscaram benefícios financeiros e atendimento de demandas, especialmente após interação com os consumidores. As principais dificuldades para os pesquisados gaúchos foram encontrar fornecedores e a carência de conhecimentos específicos, enquanto para os paulistas, as barreiras de consumo. Quanto aos auxílios, houve destaque para os gaúchos, com conhecimento transmitido por instituições de apoio e acesso aos financiamentos governamentais. Conclui-se que, por meio de inovações, os pesquisados de ambas as regiões buscaram a lucratividade, os gaúchos praticaram a coopetição, com o foco em diferenciação, enquanto os paulistas buscaram cooperação de outros agricultores. Essa pesquisa buscou contribuir cientificamente adaptando um constructo acerca de inovações realizadas no âmbito das SFSC, com base no Manual de Oslo. Como contribuição social, espera-se alcançar formadoresde políticas públicas e instituições que geram conhecimento para os agricultores familiares que desejam se inserir e/ou permanecer em SFSC, demonstrando as ações inovadoras exemplificadas na presente pesquisa.