Impacto da radioiodoterapia precoce versus tardia na evolução de pacientes com carcinoma papilífero de tireoide de risco de recorrência intermediário a alto: estudo de coorte retrospectivo

Abstract

Introdução: O carcinoma papilífero de tireoide (CPT) vem apresentando aumento de incidência e, embora evolua com baixa mortalidade, cursa com persistência/recorrência em número considerável de casos. Os benefícios da radioiodoterapia (RIT) após realização da tireoidectomia total (TT) são bem documentados, e tem suas indicações definidas. Porém, ainda não está claro se o momento da administração da primeira RIT pós-TT tem impacto na evolução dos pacientes, e não há recomendações definitivas nas principais diretrizes atuais sobre o tempo ideal para administração de RIT após a cirurgia. Objetivos: Avaliar, em pacientes com CPT de risco de recorrência (RR) intermediário ou alto, tratados com TT e RIT, se o tempo entre essas duas abordagens terapêuticas influencia no desfecho dos casos. Metodologia: Trata-se de estudo de coorte retrospectivo, no qual foram avaliados 163 pacientes com CPT de RR intermediário ou alto, submetidos à terapia TT + RIT, acompanhados em um hospital terciário do sudeste do Brasil. Os pacientes foram categorizados em dois grupos com base no intervalo entre TT e RIT, sendo um grupo precoce (intervalo < 4 meses, n = 59) e um grupo tardio (intervalo ≥ 4 meses, n = 104). A principal variável de interesse foi o intervalo de tempo entre a TT e a RIT. O principal desfecho considerado foi a presença de resposta terapêutica excelente em 1 ano após o tratamento inicial. Também foram considerados: presença de resposta incompleta em algum momento entre 1 ano após RIT e a última avaliação ambulatorial, tempo de sobrevida livre da doença, além da resposta à terapia excelente na última avaliação do paciente. Análises univariadas e multivariadas foram realizadas para identificar fatores associados aos desfechos. Resultados: Não foram observadas diferenças entre os grupos < e ≥4 meses com relação aos desfechos resposta terapêutica excelente em 1 ano [24 (40,7%) versus (vs) 50 (48,1%); p=0,3619], resposta incompleta em algum momento entre 1 ano após RIT e a última avaliação [20 (33,8%) vs 35 (33,6%); p=0,97], tempo de sobrevida livre da doença (34,03±48,63 vs 51,33±55,92 meses; p=0,076) ou resposta excelente à terapia na última avaliação [36 (61,0%) vs 60 (57,7%); p=0,6784]. Resultados semelhantes foram observados após análise de subgrupo de casos com RR intermediário ou alto. As curvas de Kaplan-Meier também não mostraram diferenças estatisticamente significativas (p> 0,05). A presença de tireoidite de Hashimoto [odds ratio (OR)= 0,292; intervalo de confiança 95% (IC95%): 0,105 – 0,808; p= 0,0178] e os níveis de primeira tireoglobulina estimulada (OR= 0,987; IC95%: 0,975 – 0,999; p= 0,0332), de forma negativa, e a ausência de metástases linfonodais ao diagnóstico (OR= 4,566; IC95%: 1,868 – 11,162; p= 0,0009), de forma positiva, foram preditores de resposta terapêutica excelente em 1 ano. A presença de metástases linfonodais ao diagnóstico foi preditora de resposta incompleta durante o seguimento (OR= 3,222; IC95%: 1,193 – 8,702; p= 0,021), assim como a dose acumulada de RIT (OR= 1,014; IC95%: 1,004 – 1,025; p= 0,0064). Por sua vez, resposta excelente em 1 ano (OR= 6,676; IC95%: 2,115 – 21,071; p= 0,0012) e ausência de resposta incompleta durante o seguimento (OR= 0,147; IC95%: 0,045 – 0,477; p= 0,0014) foram preditoras de resposta excelente na última consulta. Conclusão: Neste estudo com pacientes com CPT de risco intermediário ou alto, tratados com tireoidectomia total e radioiodoterapia, o tempo entre essas duas abordagens terapêuticas não influenciou na evolução dos casos.

Introduction: Papillary thyroid carcinoma (PTC) has shown an increase in incidence and, although it has a low mortality rate, it shows persistence/recurrence in a considerable number of cases. The benefits of radioiodine therapy (RAI) after total thyroidectomy (TT) are well documented, and their indications are defined. However, it is still unclear whether the timing of the first RAI after TT has an impact on patient outcomes, and there are no definitive recommendations in the major current guidelines regarding the optimal timing for RAI administration after surgery. Objectives: To evaluate, in patients with intermediate or high-risk PTC, treated with TT and RAI, whether the time between these two therapeutic approaches impacts outcomes. Methodology: This is a retrospective cohort study in which 163 patients with intermediate or high-risk PTC, treated with TT + RAI therapy, were followed at a tertiary hospital in southeastern Brazil. Patients were categorized into two groups based on the interval between TT and RAI: an early group (interval < 4 months, n = 59) and a late group (interval ≥ 4 months, n = 104). The main variable of interest was the time interval between TT and RAI. The main outcome considered was the presence of an excellent therapeutic response at 1 year after the initial treatment. The following were also considered: the presence of an incomplete response at any time between 1 year post-RAI and the last evaluation, disease-free survival time, and excellent response to therapy at the last patient assessment. Univariate and multivariate analyses were performed to identify factors associated with outcomes. Results: No differences were observed between the <4 months and ≥4 months groups regarding the outcomes of excellent therapeutic response at 1 year [24 (40.7%) versus (vs) 50 (48.1%); p=0.3619], incomplete response at any time between 1 year post-RAI and the last evaluation [20 (33.8%) vs 35 (33.6%); p=0.97], disease-free survival time (34.03±48.63 vs 51.33±55.92 months; p=0.076), or excellent response to therapy at the last evaluation [36 (61.0%) vs 60 (57.7%); p=0.6784]. Similar results were observed after a subgroup analysis of intermediate- or high-risk cases. Kaplan-Meier curves also showed no statistically significant differences in outcomes (p>0.05). The absence of Hashimoto’s thyroiditis [odds ratio (OR)= 0.292; 95% confidence interval (CI): 0.105 – 0.808; p= 0.0178], absence of lymph node metastases at diagnosis (OR= 4.566; 95% CI: 1.868 – 11.162; p= 0.0009), and initial stimulated thyroglobulin levels (OR= 0.987; 95% CI: 0.975 – 0.999; p= 0.0332) were predictors of a favorable therapeutic response at 1 year. The presence of lymph node metastases was a predictor of an incomplete response during follow-up (OR= 3.222; 95% CI: 1.193 – 8.702; p= 0.021), as was the cumulative dose of RAI (OR= 1.014; 95% CI: 1.004 – 1.025; p= 0.0064). In turn, an excellent response at 1 year (OR= 6.676; 95% CI: 2.115 – 21.071; p= 0.0012) and absence of incomplete response during follow-up (OR= 0.147; 95% CI: 0.045 – 0.477; p= 0.0014) were predictors of an excellent response at the last consultation. Conclusion: In this study with intermediate- or high-risk PTC patients, treated with total thyroidectomy and radioiodine therapy, the time gap between these two therapeutic approaches did not influence clinical outcomes.