Da terra indígena Araribá para além da sala de aula: por um “onhombo’e rapé” e uma escutatória-dialogal na formação e na prática docente

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Data

2023-12-06

Orientador

Carvalho, Alonso Bezerra de

Coorientador

Pós-graduação

Educação - FFC

Curso de graduação

Título da Revista

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Tese de doutorado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

A escuta e o diálogo em sala de aula tornam-se cada vez mais indispensáveis no processo de ensino e aprendizagem, e na prática docente. Na atualidade, considera-se um grande desafio educacional para o professor instigar transformações, incluindo atrair a atenção de crianças e jovens e, ainda, torná-los sujeitos ativos na construção do conhecimento. Acredita-se, portanto, na criação de um “Onhombo’e Rapé”, que significa, em guarani nhandewa, ‘caminho do aprendiz’, ao qual se chama de escutatória-dialogal, que são a escuta e o diálogo na convivência com a diversidade, no reconhecimento cultural e étnico e, assim, na luta contra a invisibilidade, o domínio e a exclusão. Também se acredita que o “Onhombo’e Rapé”, por sua vez, provoque os Nhanimboatyá Nhanderu rekó-re - os círculos de saberes ancestrais -, a partir do pressuposto de um bem viver em acordo com a cosmovisão indígena. Em seu meio e segundo essa sua cosmovisão, a Terra é mais do que simplesmente o lugar em que se vive. Parte dela uma relação, sagrada, que faz germinar plantas e as acolhe, assim como acolhe animais e a infinidade de seres vivos, além dos humanos. Assim sendo, a Terra está na base do bem viver. Disso é que derivou o objetivo principal da pesquisa, que foi o de criar a “Onhombo’e Rapé” – a escutatória-dialogal -, utilizando-a metodologicamente com o público-alvo - professores da educação básica; do ensino superior; e da escola indígena da Terra Indígena Araribá. Para pensar em bem viver, é necessário beber da fonte ancestral, da riqueza cultural e da sabedoria milenar dos povos originários. A conversa com os participantes da pesquisa adotou essa perspectiva em seus objetivos específicos, para estabelecer o que entendiam por bem viver e o que seria necessário, nesse contexto, para se ter uma educação voltada a tal bem viver, ou para ele convergente. Durante o processo também se discutiu como esses docentes concebem seus saberes profissionais, assim como qual o peso e o lugar dos componentes disciplinares, com vistas a uma reflexão decolonial, correlacionando, em especial, interculturalidade e currículo. Para tanto, adotou-se na pesquisa uma abordagem qualitativa e, como procedimento metodológico, a pesquisa-participante. Desta maneira, para a coleta de dados foram utilizados como instrumentos a observação participante e o diário de campo. No decorrer da pesquisa, foram essenciais os pensadores latino-americanos e indígenas para dialogar em conjunto com a fala dos participantes sobre formação, saberes ancestrais e currículo. A escutatória-dialogal reverberou na atual condição do trabalho docente, que sofre restrições no acesso a recursos de ordem econômica e cultural e ao poder presente na Educação – esta, enquanto parte da esfera pública e regulada pelo Estado. Os resultados obtidos - pensar a educação a partir da experiência do ser real e de reflorestar o imaginário num caminho guiado por uma consciência ancestral – estimulam a aplicabilidade do “Onhombo’e Rapé” e acentuam a importância metodológica da escutatória-dialogal em sala de aula. Nesse processo, sugere-se que professores e alunos estejam juntos num Onhombo’e Rapé e na ação-reflexão-ação do conhecimento, para que, assim, tanto a prática quanto a formação docente reconheçam o sujeito como protagonista numa dimensão decolonial a partir dos quatro princípios andinos dos povos Quechua e Aymara, que concebem o Bem Viver, ou Viver em Plenitude, como relacionalidade, complementaridade, reciprocidade e integralidade, relações essas brotadas da escutatória-dialogal ao longo da caminhada.

Resumo (idioma não especificado)

Kó Nhanendu-Teĩre Odjeroaywuá Rã a’erami tuwutxa eté nhambo’e awã a’egwi Nhaninmbo’e Wa’erãwa –py. Kowa Ary Riaé re, desfio ruwitxá nhambo’e mba’e nimbo’eá upé omoma’e mba’emo mbodjerá, a’eriaéma mitãngwé, kunumingwé, idjapytsaká, onhe’endu-uká awã, odjirakwaá onimongwetá ombopuku awã. Onhe’endu-uká ramo, onhembo’e rapé –nhanhoenõe awã, kó guarani nhandewa –py Onhombo’e Rapé oidjoikoá oinhenduá ijdaywuá awií nhanderekóre, nhanei’ã djigworo’awa nhanenoeweiry awã. A’e awií kó Onhombo’e Rapé omaẽ Nhanimboatyá Nhanderu rekó-re ko’agwi-gwá nhande’iwa odjoetxa djaikó porá awãre. A’e mbyté-py nhande’iwa odjoetxawa kó ywyw a’e ituwitxáwéwa kó djaikó aty-gwi. Kó nhande rekó gwiwé re a’erami odjapó ywyrákwé a’ema onikoã awã mymbákwé okõregwá kó mba’emokwé nhanderu odjapó awã, nhande rií gwiwéma. Araingwaingwáma kó ywy nhande djaikoá re, ko idjypy Ra nhẽ omaẽ awã Onhombo’e Rapé djadjapó awã e’Ĩ nimbo’eákwé etéma kó ywyre Araribá-gwi. Djaikó porã Nhanimongwetá wa’erã , kó yymangwaré nhambo’apy awã, kó nhande rey’i reta , nhandde rekó retáre, kó ombo’e djodjoaywu wa’ekó mba’emo djaywu awã, nhambo’e pyau nhanemitãngwé upé awã, kowa’e riaére idjaywu poráma idjodjaywu porãma nhande-gwima idjaywuá retá kwatiáre. Kórengwá nhanomono’õ kwatiá-gwigwa nhuũ kwatiá riaé-py kó Latino-americanos mongwetá wa’e e’Ĩ nhandewakwépy nhambo’e awã nhande rekó ypyre a’egwi kwatiáre , kó idjaywu djawema kó onimbo’e odjapóá ndogwerekóiry kó oatsa oatsá kó educação regwáre kó nhanderuwitxá ombopará awã. Kómba’emo odjapó agwéma educação regwáre nha’angá awã kó awáre e’Ĩ kó tape rowyre onhomongwetá nhaneakã omongwetá awã djodjapó apóre kó Onhombo’e Rapé, kó nimbo’eá aty-gwigwá djaywy nhaendu awãre. Oatsá ramõma e’Ĩ nimbo’eá upé a’egwi nimbo’ewa upiwé, Onhombo’e Rapé odjodjapórakwaá nhane nimbo’eá kwé nhambo’e awã idjodjapó katu djidjewydjewy katu kó irundy djadjapóá andinoquechua e ayamar –gwi, oikoá djaikó ´porã odjidjoikoá kó idjaywu a’egwi onhenduárupi ogwatá gwatá djupiwére. Em Guarani Nhandewa

Resumo (inglês)

Listening and dialogue in the classroom become increasingly indispensable in the teaching and learning process, and in teaching practice. Currently, it is considered the major educational challenge for teachers to instigate transformations, including attracting the attention of children and young people and also making them active subjects in the construction of knowledge. It is believed, therefore, in the creation of an “Onhombo'e Rapé”, which means, in Guarani Nhandewa, 'path of the apprentice', which is called listening-dialogue, which is listening and dialogue in coexistence with the diversity, cultural and ethnic recognition and, thus, the fight against invisibility, dominance and exclusion. It is also believed that “Onhombo’e Rapé”, in turn, provokes the Nhanimboatyá Nhanderu rekó-re - the circles of ancestral knowledge -, based on the assumption of a good life in accordance with the indigenous worldview. In its midst and according to its worldview, the Earth is more than the simply place where we live. Part of it is a sacred relationship that makes plants germinate and welcomes them, just as it welcomes animals and countless living beings, in addition to humans. Therefore, the Earth is the basis of good living. This is what derived the main objective of the research, which was to create “Onhombo'e Rapé” – the dialogue-listening -, using it methodologically with the target audience - teachers of basic education, higher education and school indigenous of the Terra Indígena Araribá. To think about living well, it is necessary to drink from the ancestral source, the cultural richness and the ancient wisdom of the original peoples. The conversation with the research participants adopted this perspective in their specific objectives, to establish what they understood as good living and what would be necessary, in this context, to have an education aimed at, or convergent with, such good living. During the process, it was also discussed how these teachers conceive their professional knowledge, as well as the weight and place of the disciplinary components, with a view to a decolonial reflection, correlating, in particular, interculturality and curriculum. To this end, a qualitative approach was adopted in the research and, as a methodological procedure, participant research. In this way, participant observation and the field diary were used as instruments for data collection. During the research, Latin American and indigenous thinkers were essential to dialogue together with the participants' speech about training, ancestral knowledge and curriculum. Listening-dialogue reverberated in the current condition of teaching work, which suffers restrictions in access to economic and cultural resources and the power present in Education – this, Education, as part of the public sphere and regulated by the State. The results obtained - thinking about education based on the experience of the real being and reforesting the imaginary on a path guided by an ancestral consciousness - stimulate the applicability of “Onhombo'e Rapé” and emphasize the methodological importance of listening-dialogue in the classroom. In this process, it is suggested that teachers and students be together in an Onhombo'e Rapé and in the action-reflection-action of knowledge, so that both practice and teacher training recognize the subject as a protagonist in a decolonial dimension from the four Andean principles of the Quechua and Aymara people, which conceive Good Living, or Living in Fullness, as relationality, complementarity, reciprocity and integrality, relationships that arise from listening-dialogue along the journey.

Descrição

Idioma

Português

Como citar

NASCIMENTO, Sueli do. Da terra indígena Araribá para além da sala de aula: por um “onhombo’e rapé” e uma escutatória-dialogal na formação e na prática docente = KÓ ARARIBÁ-GWI , NIMBO'É ATY DJYKÉ'I APY: Onhombo’e Rapé Árupi, Nhanendu-Teĩre Odjeroaywuá Rã Nhaninmbo’e Wa’erãwa. 2023. 207 f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista - Unesp, Marília, 2023.

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