Do corpo à cidade: corpos gordos e seus percursos urbanos na região metropolitana de São Paulo/SP

Abstract

Os estudos relacionados à mobilidade urbana são centrais para se compreender a vida nas cidades no século XXI. Com a sobreposição da lógica centro-periférica para a lógica fragmentária, a mobilidade se mostra como um dos caminhos para ajudar a desvendar esta mudança. É a partir da escala do corpo que podemos compreender como a mudança deste paradigma se revela na construção do cotidiano da vida urbana, com um olhar especial para aqueles corpos que carregam em si identidades estigmatizadas, promovidas diretamente pelas lógicas capitalistas neoliberais associadas a homogeneização do espaço urbano. Portanto, a corpo-escala torna-se central para compreender como estes processos sociais interescalares específicos da estrutura de poder, participam do processo de fragmentação socioespacial, a partir do corpo e sua relação com a cidade, em uma imbricação dialética. Desta forma, colocamos foco na análise dos corpos gordos, entendidos aqui enquanto corpos invisibilizados na produção das ciências humanas brasileiras, propondo compreender como os processos histórico-geográficos de formação do estigma da corpulência conformam a mobilidade cotidiana destes citadinos. Para isso, foi necessário a realização de entrevistas semiestruturadas e percursos urbanos acompanhados, feitos a partir do arcabouço teórico-metodológico do projeto temático “FragUrb”, visando coletar dados empíricos sobre os estigmas, identidade e a mobilidade cotidiana destes corpos na cidade de São Paulo e sua Região Metropolitana. Com os percursos acompanhados, sistematizamos e produzimos uma cartografia do ir e vir pela cidade e seus enfretamentos físicos e sociais. Corpos gordos em suas mobilidades cotidianas na metrópole fragmentada, enfrentam cerceamentos à sua mobilidade, tanto do ponto de vista físico, relacionados à acessibilidade aos modais de transporte coletivo, quanto pela relação com os outros passageiros, levando a uma experiência de mobilidade violenta, desta forma, seus percursos urbanos são condicionados a utilização de modais de transporte específicos, para fugir dos problemas de acessibilidade e das violências causadas pelos outros passageiros.

Studies related to mobility have become central in the 21st century. With the overlap from a center-periphery logic to a fragmented logic, mobility emerges as one of the pathways to help uncover this transformation. It is at the scale of the body that we can understand how this paradigm shift is revealed in the construction of everyday urban life, with a particular focus on bodies that bear stigmatized identities, directly shaped by neoliberal capitalist logics associated with the homogenization of urban space. Therefore, the bodyscale becomes crucial to understanding how these specific interscalar social processes within the power structure contribute to the socio-spatial fragmentation process—both through the body’s relationship with the city and the city’s relationship with the body. In this context, the focus is placed on the analysis of fat bodies, understood here as bodies rendered invisible in the production of Brazilian human sciences. The aim is to comprehend how the historical-geographical processes of stigma formation around corpulence shape the daily mobility of urban dwellers. To achieve this, semi-structured interviews and accompanied urban journeys were conducted, guided by the theoretical and methodological framework of the thematic project “FragUrb.” These methods aimed to collect empirical data on the stigmas, identities, and daily mobility of these bodies in the Metropolitan Region of São Paulo. Following the methodological procedures, the collected field data were systematized and represented cartographically. Fat bodies in their daily mobility within the fragmented metropolis face restrictions on their movement, both from a physical perspective, related to accessibility to public transportation modes, and in their interactions with other passengers. This leads to an experience of violent mobility. Consequently, their urban journeys are conditioned to the use of specific transportation modes to avoid accessibility issues and the violence caused by other passengers.