O polimento da prótese ocular influencia na microbiota da cavidade anoftálmica?

Abstract

A reabilitação protética ocular possui importante papel na recuperação psicossocial e fisiológica de pacientes anoftálmicos. Porém, porosidades e microfissuras surgem na sua superfície com o uso e também pela deficiência durante o acabamento e polimentos dessas próteses, facilitando a retenção de biofilme microbiano. O objetivo deste ensaio clínico foi avaliar a efetividade do repolimento de próteses oculares em uso sobre aspectos microbiológicos e inflamatórios presentes na cavidade anoftálmica e na superfície destas próteses. Dezesseis indivíduos usuários da mesma prótese ocular por pelo menos 2 anos foram divididos em 2 grupos: intervenção (IN) (n = 10) e sem intervenção (SIN) (n = 6). Além destes, um terceiro grupo com voluntários sem deficiências oculares foi o controle positivo (CP) (n = 5). Dados demográficos, clínicos e perfil psicossocial foram coletados. Foram avaliados cavidade anoftálmica, olho contralateral e superfície das próteses oculares dos voluntários anoftálmicos e o olho direito do grupo CP em 3 períodos (inicial, 15 e 30 dias após o repolimento). A análise microbiológica avaliou as unidades formadoras de colônias (UFC) de fungos da espécie Candida albicans, de bactérias totais e das do gênero Staphylococcus (Staphylococcus epidermidis e S. aureus). A citologia esfoliativa foi realizada para a qualificação do quadro de células inflamatórias da conjuntiva de todos os voluntários. A inflamação conjuntival foi avaliada clinicamente. Para o nível de inflamação foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Para a análise entre períodos no grupo IN, foi realizado o teste de Friedman. Os dados qualitativos foram submetidos à estatística descritiva, sendo aplicado o teste Q de Cochran, quando necessário. Todas as análises foram realizadas com significância de 5%. Na análise microbiológica, houve maior formação de microrganismos na cavidade anoftálmica e prótese que no olho contralateral no período inicial. Na cavidade anoftálmica do grupo IN, a quantidade de todos os microrganismos avaliados foi estatisticamente maior no período inicial que em 15 e 30 dias após o repolimento. Na prótese ocular, houve maior acúmulo de bactérias totais e Candida albicans no período inicial que em 15 e 30 dias após o repolimento. Foi observada maior inflamação palpebral na cavidade anoftálmica que no olho contralateral. Houve redução estatisticamente significante dos sinais clínicos inflamatórios em 15 e 30 dias após o repolimento no grupo IN. A análise citológica não mostrou redução significativa do infiltrado de células inflamatórias em 15 e 30 dias após o repolimento. É possível concluir que o repolimento foi benéfico na redução de microrganismos ao longo do tempo e na redução dos sinais clínicos inflamatórios.

Ocular prosthetic rehabilitation plays an important role in the psychosocial and physiological recovery of anophthalmic patients. However, porosities and micro-cracks appear on its surface with use and also by the deficiency during the finishing and polishing of these prostheses, facilitating the retention of microbial biofilm. The objective of this clinical trial was to evaluate the effectiveness of repolishing of ocular prostheses in use on microbiological and inflammatory aspects present in the anophthalmic cavity and on the surface of these prostheses. Sixteen subjects wearing the same ocular prosthesis for at least 2 years were divided into 2 groups: intervention (IN) (n = 10) and no intervention (NIN) (n = 6). In addition, a third group with volunteers without ocular disability was the positive control (PC) (n = 5). The anophthalmic cavity, contralateral eye, and ocular prosthesis surface of anophthalmic volunteers and the right eye of the PC group were evaluated at 3 periods (initial period and at 15 and 30 days after repolishing). The microbiological analysis evaluated the colony forming units (CFU) of fungi of the Candida albicans species, of total bacteria and of the Staphylococcus genus (Staphylococcus epidermidis and S. aureus). Exfoliative cytology was performed to qualify the inflammatory cells of the conjunctiva of all volunteers. Conjunctival inflammation was clinically evaluated. For the level of inflammation, the Mann-Whitney test was used. For the analysis between periods in the IN group, the Friedman test was performed. Qualitative data were submitted to descriptive statistics, and Cochran's Q test was applied when necessary. All analyzes were performed with a significance of 5%. In the microbiological analysis, there was greater formation of microorganisms in the anophthalmic cavity and prosthesis than in the contralateral eye in the initial period. In the anophthalmic cavity of the IN group, the amount of all microorganisms evaluated was statistically higher in the initial period than at 15 and 30 days after repolishing. In the ocular prosthesis, there was greater accumulation of total bacteria and Candida albicans in the initial period than at 15 and 30 days after repolishing. More palpebral inflammation was observed in the anophthalmic socket than in the contralateral eye. There was a statistically significant reduction in clinical signs of inflammation at 15 and 30 days after repolishing in the IN group. Cytological analysis showed no significant reduction in inflammatory cell infiltrate at 15 and 30 days after repolishing. It is possible to conclude that repolishing was beneficial in reducing microorganisms over time and in reducing clinical inflammatory signs.