Neoliberalismo, relações de trabalho e efeitos de poder do discurso organizacional

Abstract

As inúmeras relações estabelecidas na sociedade, assim como seus modos e modelos de produção, reconfiguram-se constantemente de acordo com as mudanças sócio-políticas-econômicas. Da mesma maneira, as relações de trabalho vivenciadas se adaptam continuamente às demandas da sociedade em que estão inseridas, compatibilizando-se com o momento histórico vigente. Portanto, não se limitando à concepção de fluxo de informação, mas compreendendo o papel estruturante da comunicação nas organizações, esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre os efeitos de poder que o discurso organizacional assume nas relações de trabalho e na identidade dos trabalhadores no contexto neoliberal. Para tanto, propõe-se uma abordagem teórico-empírica, com uma fundamentação teórica pautada na discussão acerca de temas como comunicação organizacional, discursos, efeitos de poder, e neoliberalismo e sua performance psíquica (FOUCAULT, 1980; FIGARO, 2008; OLIVEIRA, PAULA E MARCHIORI, 2012; PUTNAM E MUMBY, 2014; HARDY E THOMAS, 2014; SCHARFF, 2016; BUTLER, 2017; HAN, 2018; KANAI EGILL, 2020; SAFATLE ET AL., 2021). Frente a isso, define-se como coleta de dados a realização de entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado em um corpus formado por 14 trabalhadores de diferentes categorias, selecionados com o propósito de abranger ângulos distintos da realidade. Para analisar as respostas, utilizou-se a metodologia qualitativa pluralista proposta por Scharff (2011), que tem como cerne a psicologia discursiva (PD), que foi aplicada com o intuito de identificar padrões nas falas dos entrevistados sobre as maneiras pelas quais eles negociavam e vivenciavam o discurso organizacional e as relações de trabalho. Nesse processo investigativo, 10 efeitos de poder do discurso organizacional que impactam na constituição das subjetividades dos trabalhadores foram verificados através desses padrões. De forma semelhante, possíveis resistências também foram estudadas, tendo em vista que poder e resistência são processos mutuamente implicados. Sendo assim, defende-se a tese de que os discursos organizacionais possuem efeitos de poder nas relações de trabalho estabelecidas, de maneira a incidir na identidade dos trabalhadores e perpetuar o neoliberalismo. Por fim, destaca-se que esta pesquisa buscou contribuir para a expansão da análise crítica sobre a comunicação organizacional, de modo a somar reflexões para compreender com mais profundidade as interfaces sobre a formação da vida psíquica dos trabalhadores por meio dos discursos que enredam as organizações, dando atenção especial tanto à incorporação, quanto à adaptação do neoliberalismo a partir do trabalho.

The uncountable relationships established in society, as well as their models of production, are constantly reconfigured according to socio-political-economic changes. In the same way, the work relationships experienced continuously adapt to the social demands in which they are inserted, making them compatible with the current historical moment. Therefore, understanding the structuring role of communication in organizations and not limited to its conception of information flow, this research aims to reflect on the power effects that the organizational discourse assumes in labor relations and in the worker's identity in the neoliberal context. Thus, a theoretical-empirical approach is proposed, with a theoretical foundation based on the discussion of themes such as organizational communication, discourses, power effects, and neoliberalism and its psychic performance (FOUCAULT, 1980; FIGARO, 2008; OLIVEIRA, PAULA E MARCHIORI, 2012; PUTNAM E MUMBY, 2014; HARDY E THOMAS, 2014; SCHARFF, 2016; BUTLER, 2017; HAN, 2018; KANAI EGILL, 2020; SAFATLE ET AL., 2021). In view of this, data collection is defined by the conduction of in-depth interviews with a semi-structured script in a corpus formed by 14 workers from different categories, selected with the purpose of covering distinct angles of reality. To analyze the answers, the pluralistic qualitative methodology proposed by Scharff (2011) was used, which has the discursive psychology as its core, which was applied with the aim of identifying patterns in the interviewees' speeches about the ways in which they negotiated and experienced organizational discourse and work relationships. In this investigative process, 10 power effects of the organizational discourse that impact on the constitution of workers' subjectivities were verified through these patterns. Similarly possible resistances were also studied, considering that power and resistance are mutually implicated processes. Therefore, this thesis defends that organizational discourses have power effects in established work relationships, in a way that reflects on workers' identity and perpetuates neoliberalism. Finally, it is emphasized that this research sought to contribute to the expansion of critical analysis on organizational communication, to add reflections to understand in more depth the interfaces on the formation of workers' psychic life through the discourses that enmesh organizations, giving special attention to both the incorporation and adaptation of neoliberalism through work.