Atraso no diagnóstico do câncer: as razões podem começar na infância
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Data
2022-02-15
Orientador
Bernabé, Daniel Galera
Coorientador
Pós-graduação
Odontologia - FOA
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Tese de doutorado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
A demora no diagnóstico do câncer atrasa o início do tratamento e tem impacto adverso no prognóstico do paciente. Embora o trauma infantil seja uma realidade comum na vida dos indivíduos, a ciência de sua ocorrência e consequências ainda são negligenciados em portadores de doenças crônicas. Estudos de nossa equipe e outros têm mostrado evidências das consequências do trauma infantil sobre aspectos emocionais, comportamentais e clinicopatológicos em pacientes com câncer. No entanto, até o momento, não há estudos que avaliaram a associação do trauma na infância com o atraso para o diagnóstico do câncer. O objetivo da presente pesquisa foi avaliar, pela primeira vez, a relação entre a ocorrência de trauma infantil e o tempo de demora para o diagnóstico da doença em um grupo de pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP). Neste estudo transversal, 111 pacientes com câncer de cabeça e pescoço foram avaliados quanto aos fatores preditores para o tempo prolongado do paciente procurar atendimento e de sua trajetória no sistema de saúde até o diagnóstico da doença. O ponto de corte para avaliação do atraso para o diagnóstico foi de 3 meses, considerando até 3 meses como menor atraso e mais de 3 meses como maior atraso. Dados demográficos, clinicopatológicos e comportamentais foram extraídos dos prontuários dos pacientes. O Questionário sobre Trauma na Infância (QUESI) foi utilizado para avaliar a ocorrência de trauma infantil. Análises de regressão múltipla foram usadas para avaliar a associação das variáveis demográficas, comportamentais e clinicopatológicas, bem como da ocorrência de trauma na Infância com tempo de demora para o diagnóstico de câncer. Os resultados mostraram que o tempo médio de demora para os pacientes com CCP procurarem atendimento após perceber o primeiro sinal da doença foi de 129,50 dias, e o tempo médio de atraso entre o paciente procurar o primeiro serviço de saúde após perceber o tumor e receber o diagnóstico definitivo de câncer foi 196,43 dias. A ocorrência de abuso físico na infância foi uma variável independente para maior demora do paciente em procurar o primeiro atendimento após ter percebido o primeiro sintoma de câncer (OR = 3,22, IC = 1,020-10,183, p = 0,046). Pacientes que tinham o tumor localizado na laringe (OR = 13,5, IC = 2,645-69,355, p = 0,002) e tinham histórico de abuso emocional na infância (OR = 6,7, IC = 1,974-23,293, p = 0,002) eram mais propensos a terem um tempo maior que 3 meses entre a primeira consulta em um serviço de saúde e o recebimento do diagnóstico de câncer. Pacientes do sexo feminino (OR = 5,6, IC = 1,658-18,934, p = 0,006) e com o tumor localizado na laringe (OR = 11,2, IC = 2,204- 56,987, p = 0,004), tiveram um maior atraso entre perceber o primeiro sintoma e ter o diagnóstico da doença. Em conjunto a fatores clinicopatológicos, o histórico de experiências traumáticas na infância pode ser preditivo para um maior atraso do paciente com câncer procurar os serviços de saúde e receber o diagnóstico. Os resultados do presente estudo devem estimular que a redução do trauma no período infantil seja considerada no desenvolvimento de estratégias para a prevenção secundária do câncer.
Resumo (inglês)
Delay in the diagnosis of cancer retard the initiation of treatment and has an adverse impact on the patient's prognosis. Although childhood trauma is a common reality in the lives of individuals, the science of its occurrence and consequences are still neglected in patients with chronic diseases. Studies by our team and others have shown evidence of the consequences of childhood trauma on emotional, behavioral and clinicopathological aspects in cancer patients. However, to date, there are no studies that have evaluated the association of childhood trauma with delay in cancer diagnosis. The objective of the present research was to evaluate, for the first time, the relationship between the occurrence of childhood trauma and the delay time for the diagnosis of the disease in a group of patients with head and neck cancer (HNC). In this cross-sectional study, 111 patients with head and neck cancer were evaluated regarding predicting factors for the patient's prolonged time to seek care and their trajectory in the health system until the diagnosis of the disease. The cut-off point for evaluating the delay for diagnosis was 3 months, considering up to 3 months as the shortest delay and more than 3 months as the longest delay. Demographic, clinicopathological and behavioral data were extracted from the patients' records. The Childhood Trauma Questionnaire (CTQ) was used to assess the occurrence of childhood trauma. Multiple regression analyzes were used to assess the association of demographic, behavioral, and clinicopathological variables, as well as the occurrence of childhood trauma with time delay for the diagnosis of cancer. The results showed that the average delay for HNC patients to seek care after noticing the first sign of the disease was 129.50 days, and the average delay time between the patient seeking the first healthcare professional after noticing the tumor and receiving the definitive diagnosis of cancer was 196.43 days. The childhood physical abuse occurrence was an independent variable for the patient's longer delay in seeking first care after having noticed the first symptom of cancer (OR = 3.22, CI = 1.020-10.183, p = 0.046). Patients who had the tumor located in the larynx (OR = 13.5, CI = 2.645-69.355, p = 0.002) and had a history of childhood emotional abuse (OR = 6.7, CI = 1.974-23.293, p = 0.002) were more likely to have a time greater than 3 months between the first consultation at a health service and receiving the diagnosis of cancer. Female patients (OR = 5.6, CI = 1.658-18.934, p = 0.006) and with the tumor located in the larynx (OR = 11.2, CI = 2.204-56.987, p = 0.004), had a longer delay between noticing the first symptom and being diagnosed with the disease. In conjunction with clinicopathological factors, the history of traumatic experiences in childhood may be predictive of a longer delay in the cancer patient seeking health services and receiving the diagnosis. The results of the present study should encourage the reduction of childhood trauma to be considered in the development of strategies for secondary cancer prevention.
Descrição
Idioma
Inglês