Imagem-sapatão: práticas pensantes de racha/dura

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Data

2023-12-18

Orientador

Khouri, Omar

Coorientador

Pós-graduação

Artes - IA 33004013063P4

Curso de graduação

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Dissertação de mestrado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

O pontapé-desejo que inaugura o trabalho é a busca de "artes lésbicas". Forjar uma coleção como quem "descobre" - como quem inventa? - para si, um mundo que não existia. Entretanto, as imagens que encontrava insistiam em me olhar, me perguntavam sobre as certezas em que as enquadrava, insistiam contra a completude positivista da categorização, mesmo aquela que se pretende contra-hegêmonica. Precisei perguntar: "artes lésbicas", o que é isso? A imagem-sapatão teimou em aparecer fugindo, não se deixando ser eclipsada pela linearidade discursiva da "descoberta" seguida do ingresso bem-sucedido na mesma narrativa historiográfica - aquela que nomeia os seus outros. Imagem-sapatão teima pela abertura da ideia de História da Arte, de Sexualidade, de Gênero, de Lesbianidade. Se apresenta como encontro desestabilizador dos binários ordenadores da modernidade colonialidade: mito/história, natural/artificial, farsa/real, homem/mulher, hetero/homo, normal/anormal. Essas imagens vão fugindo de todas as ordenações e, assim, denunciam o próprio esforço do ordenar:quem ordena, os efeitos da ordenação e a finalidade da ordem. Imagem-sapatão sísmica em racha/dura que nomeia a norma e guarda para si o mistério do inominável, do movimento magmático. Colocamos no divã o inconsciente do feminismo-lésbico ao analisar seus pactos narcísicos de branquitude e de cisnormatividade. Assim, na encruzilhada sapatão entre transmasculinidade e lesbianidade fundamentamos outra maneira de narrar o saber nas imagens: imaginativa, marcando diferenças sem estabilizá-las em categorias hierárquicas. Fraturamos em mais nomes (im)possíveis o saber que tenta se levantar sobre os corpos, e que demarca pertencimentos sempre subordinados a conceitos médico-jurídicos, acadêmicos, euro-estadunidenses e distantes da memória comunitária e da autonomia dos sujeitos em questão. Aqui, nos guardarmos no território do trânsito, em taxonomias ocasionais, sem fixar em imagens um significante universal da sapatonidade. Ao instalar racha/duras na ordenação binária da colonialidade modernidade implantamos contradições, experimentações e reticências como armadilhas visuais para as ciências que tentam nos reduzir à transparência do explicável, categorizável e assimilável. A imagem-sapatão aparece, então, como ferramenta de autodeterminação e multiplicação da significação, da imaginação e da representação, fazendo emergência do confronto antirracista e anticolonial dentro dos estudos que vêm se estabelecendo como História Lésbica.

Resumo (francês)

Un coup de pied plein de désir début ce travail, c'est la recherche des "Arts Lesbiennes". On veut formuler une collection, comme qui "découvre" - ou comme qui invente? - un monde qui n'existait pas. Pourtant, les images que je trouvais insistaient en me regardant, elles me demandaient à propos des certitudes dans lesquelles je les encadrais, elles insistaient contre la complétude positiviste de la catégorisation, même celle que se prétendait contre-hégémonique. J'ai eu, donc, besoin de me poser la question: les "arts lesbiennes", qu'est-ce que c'est? Sapatão peut se traduire comme gouine, mais il s'agit d'une incorporátion de genre typiquement brésilienne parmi les lesbiennes. L'image-sapatão a toujours échappé la linéarité discursive de la découverte jusqu'à l'entrée bien succédée dans le narrative historiographique - celle qui a pour habitude la nomination des ses autres. L'image-sapatão ouvre l'idée d'Histoire de l'Art, de Sexualité, de Genre et, à la fin, de Lesbianité. Elles se présente tel un catalisáteur de déstabilisations dans les binaires organisateurs de la modernité colonialité: mythe/histoire, naturel/artificiel, false/réel, homme/femme, hetero/homo, normal/anormal. Ces images dansent une fugue avec toutes les catégorisations et, de cette manière, elles dénoncent le effort de catégoriser, qui catégorise, les effets de la catégorisation et la finalité de la catégorie. L'image-sapatão provoque une coupure dans la nomination, elle marque la norme et se garde dans le mystère de l'innommable. On met sur le divan l'insconcient du feminisme lesbienne et de ses pactes narcisique de blanchité et cisnormativité. Ainsi, à la croisée des chemins entre trans masculinité et lesbianité, nous fondons une autre manière de raconter le savoir en images : imaginative, marquant les différences sans les stabiliser dans des catégories hiérarchiques. Nous fracturons en plus de noms (im)possibles le savoir qui tente de s'élever au-dessus des corps, et qui délimite des appartenances toujours subordonnées aux concepts médico-légaux, académiques, euro-américains et éloignées de la mémoire communautaire et de l'autonomie des sujets en question. Ici, on se maintient sur le territoire du trafic, dans des taxonomies ponctuelles, sans fixer dans les images un signifiant universel de la sapatonité. En installant des clivages dans l’ordre binaire de la colonialité modernité, nous implantons des contradictions, des expérimentations et des réticences comme des pièges visuels pour les sciences qui tentent de nous réduire à la transparence de l’explicable, catégorisable et assimilable. L’image-sapatão apparaît alors comme un outil d’autodétermination et de multiplication du sens, de l’imaginaire et de la représentation, donnant lieu à l’affrontement antiraciste et anticolonial au sein des études qui se sont constituées comme l’Histoire Lesbienne.

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Português

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