‘Mas, o que a (o) psicóloga (o) faz aqui?’ Uma análise da atividade profissional da psicologia segundo manuais de referências técnicas para atuação na política pública da assistência social

Abstract

A consistência e propósito das práticas psicológicas, em seus diferentes espaços de realização, suscita uma pergunta, que, com frequência é direcionada a psicólogas e psicólogos. Tal indagação, muitas vezes, ressoa, igualmente, no fazer diário deste profissional, sobretudo aquela/aquele cuja atuação ocorre no campo das políticas públicas, de caráter não fundamentalmente clínico. Deste modo, o objetivo geral dessa tese é conhecer e analisar, a partir dos pressupostos da Psicologia Histórico cultural, os traços essenciais na(s) possível (eis) forma(s) de atividade(s) da/o psicóloga/o que atua na política pública da assistência social, a partir de uma perspectiva ontológica. Como método científico utilizo a revisão teórico bibliográfica e a análise documental do conjunto de manuais de referência técnica para a atuação de psicólogas e psicólogos no sistema único da assistência social, os quais forneceram subsídios à elaboração de reflexões que contemplaram uma análise de cunho ontológico em relação a prática psicológica, culminando com a elaboração de categorias de análise direcionadas pelos constructos Finalidade, Objeto e Instrumentos apresentados por Marx (1982) quando este caracteriza os processos de trabalho. Este estudo partiu do pressuposto de que a atividade psicológica possui uma essência, na acepção marxiana desse conceito. Os resultados indicaram que a finalidade da atividade profissional, marcada, essencialmente, por contradições estruturais, é fomentar condições que viabilizem a apropriação e objetivação do exercício da cidadania por parte dos usuários do serviço. O objeto da atuação é o trabalho com coletivos historicamente abatidos em seus direitos, e os instrumentos apontam para a escuta qualificada e ações comunitárias, como ações que poderão ser utilizadas para o alcance das finalidades, tendo em vista a transformação do objeto, com o qual se trabalha.

The consistency and purpose of psychological practices, in their different areas of implementation, raises a question, which is often directed to psychologists. This question often also resonates in the daily work of this professional, especially those whose work takes place in the field of public policies, which are not fundamentally clinical in nature. Thus, the general objective of this thesis is to know and name, based on the assumptions of Historical Cultural Psychology, the essential traits in the possible form(s) of activity(ies) of the psychologist who works in public social assistance policy, from an ontological perspective. As a scientific method, I use the theoretical bibliographical review and documentary analysis of the set of technical reference manuals for the work of psychologists in the single social assistance system, which provided support for the elaboration of reflections that included an ontological analysis in relation psychological practice, culminating in the elaboration of analysis categories guided by the constructs Purpose, Object and Instruments presented by Marx (1982) when he characterizes work processes. This study was based on the assumption that psychological activity has an essence, in the Marxian sense of this concept. The results indicated that the purpose of professional activity, essentially marked by structural contradictions, is to foster conditions that enable the appropriation and objectification of the exercise of citizenship by service users. The object of action is to work with groups that have historically lost their rights, and the instruments point to qualified listening and community actions, as actions that can be used to achieve the objectives, with a view to transforming the object, with which if it works.