Individualidade e relações de reconhecimento: um estudo a partir de histórias de vida de mulheres contemporâneas ao processo de modernização da região de Assis/SP

Abstract

A partir do relato de história de vida de mulheres idosas, cisgênero, brancas, heterossexuais, aposentadas ou pensionistas (faixa etária média de 75 anos de idade), contemporâneas ao processo de modernização da região centro-oeste paulista, esta pesquisa qualitativa articula as transformações sociais engendradas ao longo da experiência de urbanização com as possibilidades de exercício da individualidade. Através do recurso metodológico da etnografia do espaço doméstico, foram realizadas entrevistas de história de vida diretamente no cotidiano de cada uma das participantes. Os relatos foram analisados a partir das discussões trazidas pela teoria do reconhecimento, de Axel Honneth. Sendo assim, o objetivo foi o de compreender como o processo de transformação social de modernização ensejou a abertura para relações intersubjetivas variadas num contexto de reprodução cultural de papéis de gênero e subalternização feminina. Como resultado, concluímos que, apesar das participantes não terem tido qualquer contato com a pauta política e movimentos sociais de luta por igualdade das mulheres, elas agiam a partir da tenacidade – fortalecida e amparada pelas relações intersubjetivas – para ocuparem espaços e direcionarem suas trajetórias de vida. Os resultados obtidos não são generalizáveis, a não ser que auxiliam a compreender descritivamente a dinâmica entre o processo histórico de transformação dos modos de vida e como as pessoas, tensionadas por marcadores sociais da diferença específicos, repercutem e reinventam as possibilidades de existência nesse contexto.

Based on the life history of elderly, cisgender, white, heterossexual women (average age range of 75 years old), contemporary to the modernization process in the central-western region of São Paulo, this qualitative research articulates the social transformations engendered throughout the urbanization experience with the possibilities for exercising the individuality of the participants. Using the methodological resource of ethnography of the domestic space, life history interviews and participant observation were carried out directly in the daily lives of each of the participants. The reports were analyzed based on discussions brought about by Axel Honneth's theory of recognition. Therefore, the objective was to understand how the process of social transformation of modernization led to the opening to varied intersubjective relationships in a context of cultural reproduction of gender roles and female subalternization. As a result, we concluded that, although the participants did not have any contact with the political agenda and social movements fighting for women's equality, they acted based on tenacity – strengthened and supported by intersubjective relationships – to occupy spaces and direct their trajectories of life the way they want. The results obtained cannot be generalized, unless they help to understand the dynamics between a historical process of transformation of modes of life and how people, tensioned by social markers of difference, reflect and reinvent the possibilities of existence in this context.