Protocolo de organização de serviços para o cuidado de trabalhadores da saúde em sofrimento psíquico

Abstract

Este protocolo representa um produto técnico-científico construído no contexto do Doutorado Profissional em Enfermagem, da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), constituindo-se em uma expressão concreta da articulação entre pesquisa e prática. O estudo foi realizado no Hospital Geral de Palmas Dr. Francisco Ayres, unidade de referência em média e alta complexidade do Tocantins. No âmbito institucional, a pesquisa foi desenvolvida em articulação com o Núcleo de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalhador (NASST-HGP), setor responsável pelo cuidado à saúde dos trabalhadores da instituição. A iniciativa foi conduzida pela doutoranda Márcia Pessoa de Sousa Noronha, sob orientação do Prof. Dr. Guilherme Correa Barbosa e coorientação da Profa. Dra. Manoela de Carvalho, envolvendo diretamente os trabalhadores do NASST-HGP e os trabalhadores que utilizam os serviços do núcleo. A construção coletiva do percurso contou com o engajamento de diferentes atores institucionais, fortalecendo o vínculo entre pesquisa, prática e realidade vivida. O protocolo visa oferecer um direcionamento prático às instituições interessadas em fortalecer o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores da saúde no contexto hospitalar. Para sua construção, foi adotada uma abordagem multimétodos, que combinou procedimentos quantitativos e qualitativos, permitindo a elaboração de um diagnóstico situacional consistente, seguido da realização de uma pesquisa-ação. Este diagnóstico contemplou, de um lado, a análise de prontuários dos trabalhadores atendidos, com vistas à compreensão de seu perfil sociodemográfico e clínico; de outro, incluiu entrevistas com usuários dos serviços do NASST, com foco nas percepções sobre o cuidado em saúde mental no ambiente hospitalar. A construção das oficinas teve como ponto de partida os achados do diagnóstico situacional, que foram levados ao coletivo como dispositivo disparador de reflexão. Ao apresentar a percepção dos trabalhadores da instituição, promoveu-se uma discussão crítica sobre os desafios e as potencialidades institucionais. A escolha pela pesquisa-ação como abordagem metodológica possibilitou uma construção verdadeiramente compartilhada, sustentada por vínculos de confiança, escuta atenta e valorização dos saberes dos trabalhadores. Inspirado no modelo proposto por Werneck, Faria e Campos (2009), o processo foi conduzido com o propósito de fortalecer o protagonismo dos sujeitos envolvidos, respeitando suas trajetórias e vivências. Essa abordagem permitiu estruturar um plano de intervenção alinhado aos eixos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (BRASIL, 2012), com ênfase nas ações de assistência, educação em saúde e vigilância e aos fluxos institucionais. Com base nessas diretrizes e nos achados do diagnóstico situacional, organizamos quatro encontros presenciais, complementados por interações assíncronas, que deram forma às oficinas participativas. A seguir, apresentamos a estrutura adotada para essa etapa do percurso. O primeiro encontro foi dedicado à apresentação do objetivo geral da oficina, acolhimento entre os participantes, apresentação da proposta de trabalho, dos facilitadores e dos participantes da oficina, percepções iniciais sobre o sofrimento psíquico no ambiente hospitalar, em seguida, o alinhamento conceitual sobre Protocolo de cuidados à saúde (Organização de serviços, clínico e misto), e posteriormente, a devolutiva da análise das entrevistas na vertente usuários dos serviços do NASST. No segundo encontro, apresentou-se o Diagnóstico Situacional dos trabalhadores atendidos pela equipe interprofissional do NASST, no ano de 2023, na sequência, aspectos teóricos e práticos do sofrimento psíquico de trabalhadores da saúde, a caracterização do problema segundo sua magnitude, transcendência, riscos, vulnerabilidade, efeitos e determinantes atendimento à saúde de trabalhadores em sofrimento psíquico. Durante o terceiro encontro, a construção coletiva das ações propostas, o foco esteve na elaboração de propostas voltadas à promoção da saúde mental no trabalho. A partir dos elementos discutidos nos encontros anteriores, sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a análise conceitual, os participantes contribuíram com sugestões de ações e intervenções que julgavam viáveis e necessárias no contexto institucional. No quarto encontro, as propostas construídas foram apresentadas e validadas coletivamente, elencando possíveis indicadores para avaliação e acompanhamento das ações. Este momento também foi reforçado com os trabalhadores o compromisso com a continuidade do cuidado e com a implementação e avaliação das ações construídas em conjunto. As ações que compõem o plano de intervenção contido no protocolo surgiram de um movimento coletivo, a partir das reflexões que emergiram do diagnóstico situacional e das vivências compartilhadas durante as oficinas. Durante todo o processo, algumas práticas existentes ganharam novos sentidos, outras foram sistematizadas, além do surgimento de ideias inéditas, inspiradas diretamente nas vivências, percepções e necessidades expressas pelos próprios trabalhadores. De acordo com o referencial metodológico proposto por Werneck, Campos e Faria (2009), cada proposta foi organizada a partir da definição do tema, do objetivo, dos recursos necessários, da metodologia a ser empregada e dos indicadores para monitoramento. A etapa de avaliação será realizada, posteriormente, com base em instrumentos previamente validados. Recomenda-se a realização de reavaliações periódicas e o estímulo à produção de novas pesquisas, de modo a garantir que o protocolo mantenha sua efetividade ao longo do tempo e permaneça alinhado às demandas reais e em constante transformação vivenciadas pelos trabalhadores da saúde.