O homem, impasse de pó e desejo: imagens e figurações do masculino em O som e a fúria, de William Faulkner

Abstract

Esta tese de Doutoramento objetiva a análise das representações do masculino que emergem da tessitura narrativa do romance O som e a fúria (2004), do escritor norte-americano William Faulkner. A partir do arsenal teórico-crítico fornecido pelas teorias da narrativa, em particular os pressupostos de Gérard Genette (1979), articulado à mobilização teórica dos estudos de gênero e dos men’s studies, pretende-se analisar o modo como as categorias de voz e focalização operam no processo de representação de narradores e personagens masculinos, e nas relações destes com o feminino e possíveis dissidências de gênero, a partir de três dimensões temáticas: a paternidade, já que a obra de Faulkner dramatiza constantemente as relações entre patriarcas e filhos; a homossociabilidade, isto é, as relações de cumplicidade e solidariedade que respaldam a dominação masculina; e a denominada crise da masculinidade, isto é, os sentimentos de angústia do homem faulkneriano frente às mudanças históricas, sociais e culturais de gênero, no contexto agrário e arcaizante do Sul dos Estados Unidos. Nesse sentido, operamos com a hipótese de que estas três dimensões convergem para a existência de uma permanente crise das representações masculinas no corpus faulkneriano, calcada na perpetuação da masculinidade hegemônica, na propagação de modelos de virilidade entre homens e gerações de pais e filhos, na ressonância de uma práxis e discursividade heteronormativa, e na elaboração subjetiva de narradores e personagens que não estão inseridos em padrões valorativos de hombridade. A representação dessa crise da masculinidade obteve respaldo, no romance modernista de Faulkner, uma forma também em crise, como espaço mimético privilegiado para sua representação.

This doctoral thesis aims to analyze the representations of the masculine that emerge from the narrative fabric of the novel The sound and the fury (2004), by the American writer William Faulkner. Based on the theoretical and critical arsenal provided by narrative theories, especially the assumptions of Gérard Genette (1979), articulated with the theoretical mobilization of gender studies and men’s studies, the aim is to analyze the way in which the categories of voice and focalization operate in the process of representing male narrators, in their relationships with the feminine and possible gender dissidences, based on three thematic dimensions: fatherhood, since Faulkner’s work constantly dramatizes the relationships between patriarchs and sons; homosociability, that is, the relationships of complicity and solidarity that support male domination; and the so-called crisis of masculinity, that is, the feelings of anguish of the Faulknerian man in the face of historical, social and cultural changes in gender, in the agrarian context of the Southern United States. In this sense, we operate with the hypothesis that these three dimensions converge towards the existence of a permanent crisis of masculine representations in the Faulknerian corpus, based on the perpetuation of hegemonic masculinity, the propagation of models of virility among men and generations of fathers and sons, the resonance of a heteronormative praxis and discursivity, and the subjective elaboration of narrators and characters who are not inserted into evaluative standards of manhood. The representation of this crisis of masculinity found support in Faulkner's modernist novel, a form also in crisis, as a privileged mimetic space for its representation.