Gênero e memória na militarização das mulheres soviéticas
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Data
2024-09-27
Autores
Orientador
Possas, Lidia Maria Vianna
Coorientador
Pós-graduação
Ciências Sociais - FFC
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Dissertação de mestrado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
A Segunda Guerra Mundial é um dos acontecimentos mais estudados do século XX. Entretanto, como aponta Svetlana Aleksiévitch (2016a), a maior parte do que conhecemos sobre a guerra foi escrito por homens e para homens, que a consideram implícita ou explicitamente como um fenômeno masculino por excelência. Dessa forma, essa pesquisa pretende explorar o trabalho de Aleksiévitch, “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher” (2016a), com o intuito de pensar as relações de gênero na União Soviética a partir dos testemunhos das mulheres que serviram no front. O referencial teórico utilizado são os estudos de gênero na perspectiva de Raewyn Connell e Rebecca Pearse (2015) e a técnica para a organização dos dados é a análise do discurso baseada principalmente em Mikhail Bakhtin (2002; 2016). Em suma, ao priorizar as experiências e os testemunhos femininos em seu trabalho, Aleksiévitch não só desafiou a narrativa oficial da guerra, mas também questionou em alguma medida as relações de gênero soviéticas ao deslocar os marcos interpretativos do passado para outras questões e outros sujeitos, uma disputa política que tem repercussões até hoje no leste europeu. Contudo, embora seu projeto seja em vários sentidos inovador, ele se inscreve em um momento histórico no qual as disputas em torno da memória estavam subordinadas em alguma medida a um conflito maior em torno das metanarrativas da nação. Desse modo, frequentemente há uma dissociação entre a história que Aleksiévitch quer contar e história que suas interlocutoras desejam contar. Além disso, o ativismo da jornalista pela paz também implicou frequentemente em visões de gênero essencialistas que tinha como intuito questionar o ideal monolítico de nação, no qual em grande parte suas interlocutoras ainda se viam, embora não sem conflitos e contradições. Por isso a importância de entender o discurso através de seu aspecto dialógico. Ainda que Aleksiévitch tivesse o intuito de tirar essas mulheres da invisibilidade e dar um espaço para que elas pudessem discutir suas memórias livremente, sua tentativa de negar a guerra como uma experiência de valor implicou na adoção consciente ou inconsciente de estereótipos empregados no pós-guerra com o intuito de “desarmar” as mulheres do front, tanto simbólica como literalmente.
Resumo (inglês)
The Second World War is one of the most studied events of the 20th century. However, as Aleksiévitch (2016) points out, most of what we know about war was written by men and for men, who implicitly or explicitly consider it a masculine phenomenon par excellence. Thus, this research intends to explore Aleksiévitch's work, “The War’s Unwomanly Face” (2016), with the aim of thinking about gender relations in the Soviet Union based on the testimonies of women who served at the front. In this sense, the theoretical framework used is gender studies, based on the perspective of Raewyn Connell and Rebecca Pearse (2015) and the technique for organizing the data is discourse analysis based on Mikhail Bakhtin (2002; 2016). In short, by prioritizing women’s experiences and testimonies in her work, Aleksiévitch not only challenged the official narrative of the war, but also questioned Soviet gender relations to some extent by shifting the interpretative frameworks of the past to other issues and subjects, a political dispute that still has repercussions in Eastern Europe today. However, although her project was innovative in many ways, it was part of a historical moment in which disputes over memory were subordinated to some extent to a larger conflict over the metanarratives of the nation, so there is often a dissociation between the story Aleksiévitch wants to tell and the story her interlocutors want to tell. Furthermore, the journalist’s activism for peace also often implied essentialist gender views that aimed to question the monolithic ideal of the nation, in which many of her interlocutors still saw themselves, although not without conflicts and contradictions. Hence the importance of understanding the discourse through its dialogical aspect. Although Aleksiévitch intended to bring these women out of invisibility and provide a space for them to discuss their memories freely, her attempt to deny the war as a valuable experience implied the conscious or unconscious adoption of stereotypes employed in the post-war period with the aim of “disarming” women from the front, both symbolically and literally.
Descrição
Palavras-chave
Ciências sociais e história, Guerra Mundial 1939-1945 - Narrativas pessoais, Mulheres soldados, Relações de gênero, Literatura - União Soviética, Social sciences and history, World War 1939-1945 - Personal narratives, Women soldiers, Gender relations, Soviet literature
Idioma
Português
Como citar
BORGES, Giovanna Bem. Gênero e memória na militarização das mulheres soviéticas. 2024. 181 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2024.